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A Engenharia que Garante a Qualidade do Trigo

  • peteaa
  • 10 de nov.
  • 3 min de leitura
Fonte: Pão de Açucar
Fonte: Pão de Açucar

Texto autoral - Petiano Caio Pires da Silva


Neste 10 de novembro celebramos o Dia do Trigo, um grão que para a maioria é desconhecido, entretanto está no dia a dia de todos seja no pão francês, na farinha do bolo, na massa de domingo ou na base de uma boa cerveja, constituindo um pilar da nossa cultura alimentar. No entanto, para o Brasil, o trigo é um paradoxo econômico e agronômico.

Vivemos em uma das maiores potências do agronegócio mundial, onde nossas safras de soja e milho quebram recordes e dominam a pauta de exportação. Contudo, na contramão desse fluxo, quando o assunto é trigo, somos historicamente dependentes, importando milhões de toneladas todos os anos, principalmente de nossos vizinhos do Mercosul para suprir a demanda interna.

Por décadas, o grão que prefere o frio, ficou restrito ao Sul do país, mas o que parecia impossível está se tornando realidade. A Embrapa, em sua linha de pesquisa, está "tropicalizando" o trigo, com cultivares adaptadas ao calor do Cerrado, expandindo as fronteiras e nos aproximando da sonhada autossuficiência.

Mas plantar é apenas a primeira etapa do processo, visto que o destino de um lote de trigo, se ele vira pão de alta qualidade ou ração animal, é definido por suas propriedades industriais, sendo essas propriedades o foco de trabalho do Engenheiro Agrícola e do Engenheiro Agrícola e Ambiental.

A indústria classifica o trigo por sua finalidade, sendo o Trigo Duro (ou "Pão") o mais valioso, pois é rico em proteínas que formam uma rede de glúten forte e elástica, capaz de reter o gás da fermentação e criar um pão leve e aerado. Em oposição, o Trigo Brando possui um glúten fraco, perfeito para a indústria de biscoitos e bolos, onde se deseja uma textura macia e quebradiça.

O desafio é que o grão é colhido úmido, e a manutenção dessa qualidade exige um processamento rápido e cuidadoso, sendo este o ponto em que a Engenharia Agrícola se torna fundamental para proteger o valor do grão. O primeiro processo crítico é a secagem, na qual o Engenheiro Agrícola deve dimensionar e operar secadores com grande precisão, pois se a temperatura for muito alta na ânsia de acelerar o processo, ocorre a desnaturação térmica: as proteínas do glúten "cozinham" e, em horas, um lote de Trigo Duro, de alto valor, perde sua força de glúten, sendo rebaixado para Trigo Brando ou pior, com perdas financeiras imensas.

O segundo desafio é a armazenagem, pois o Brasil sofre com um déficit crônico de silos, onde o problema não é só o espaço, mas também a tecnologia. O grão, mesmo seco, está vivo, respirando e gerando calor e umidade, o que torna um silo mal gerenciado um local propício à deterioração. Para evitar isso, o Engenheiro Agrícola projeta os sistemas de aeração (ventilação) para manter a massa de grãos fria e estável, visto que, sem esse controle, o calor e a umidade ativam enzimas que degradam o grão, causam fermentação e permitem a proliferação de fungos.

No Dia do Trigo, enquanto celebramos o alimento, devemos celebrar a engenharia que o protege, pois, o "trigo tropical" é a esperança da nossa autossuficiência, mas são os secadores, os silos e os sistemas de aeração projetados pelo Engenheiro Agrícola e Ambiental que garantem que o glúten, o amido e as propriedades daquele grão cheguem intactos à indústria e, por fim, ao consumidor.


REFERÊNCIAS


ABITRIGO (Associação Brasileira da Indústria do Trigo). Estatísticas. Abitrigo, [2024?]. Disponível em: https://www.abitrigo.com.br/estatisticas/. Acesso em: 07 nov. 2025.


EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Trigo BRS 264. [Brasília, DF]: Embrapa, [2020?]. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/12483/trigo-brs-264. Acesso em: 07 nov. 2025.


CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento). Informações Agropecuárias: Safras: Grãos. Brasília, DF: Conab, 2025. Disponível em: https://www.conab.gov.br/informacoes-agropecuarias/safras/graos. Acesso em: 07 nov. 2025.


PERUZZO, Renan; GARBIN, Tharles; BROCA, Talita Vieira; KUMMEL, Everton Luiz. Temperatura de secagem e a qualidade industrial do trigo. In: SALÃO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO DO IFRS, 5., 2020, Ibirubá. Anais [...]. Ibirubá: IFRS, 2020. Disponível em: https://eventos.ifrs.edu.br/index.php/Salao_IFRS/5salao/paper/view/9864/4630. Acesso em: 07 nov. 2025.


SISTEMA FAEP. Classificação de Grãos – Trigo. Curitiba: Federação da Agricultura do Estado do Paraná, 2024. (Baseado na IN MAPA nº 38/2010). Disponível em: https://www.sistemafaep.org.br/wp-content/uploads/2024/01/PR.0218-Classificacao-de-graos-trigo_web.pdf. Acesso em: 07 nov. 2025.



 
 
 

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