Terra Ferida: A Importância da Recuperação e Conservação dos Solos
- peteaa
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Texto autoral - Petiano Cesar Valadares
O Dia Mundial do Solo, celebrado em 5 de dezembro, é uma data criada pela FAO e pela ONU para promover a conscientização global sobre a importância desse recurso essencial à vida. O solo é a base da produção de alimentos, fibras, madeira e energia; sustenta ecossistemas inteiros, regula o ciclo hidrológico, armazena carbono e abriga um quarto de toda a biodiversidade do planeta (BRADY; WEIL, 2013). Estima-se que mais de 95% dos alimentos consumidos no mundo dependem direta ou indiretamente do solo cultivável, o que evidencia sua relevância para a segurança alimentar, a estabilidade econômica e a sobrevivência humana (FAO, 2015).
Apesar de sua importância, o solo é frequentemente mal utilizado e degradado em função de práticas inadequadas de manejo. Entre os principais processos de degradação estão a erosão, a salinização, a compactação, a perda de matéria orgânica, a contaminação por agrotóxicos e metais pesados e a desertificação (LEPSCH, 2011). De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2023), aproximadamente 33% dos solos do mundo já se encontram moderada ou severamente degradados, sendo removidos anualmente entre 20 e 37 bilhões de toneladas de solo pela erosão hídrica e eólica. Esse cenário afeta diretamente a capacidade produtiva dos ecossistemas e prejudica serviços essenciais como a infiltração de água, retenção de nutrientes, biodiversidade edáfica e sequestro de carbono (ONU; FAO, 2023).
A situação na América Latina e no Caribe é ainda mais preocupante. Estudos recentes revelam que cerca de 38% dos solos dessa região já apresentam algum grau de degradação, um índice superior à média global (FAPESP, 2023; JORNAL USP, 2023). Fatores como desmatamento acelerado, expansão agropecuária sem manejo conservacionista, queimadas e uso excessivo do solo têm contribuído para a intensificação dos processos erosivos e para a perda de fertilidade. Essa realidade coloca a América Latina entre as regiões mais vulneráveis à desertificação e à perda de produtividade agrícola, especialmente em áreas de clima semiárido.
No Brasil, as estimativas variam, mas apontam que entre 60 e 100 milhões de hectares já apresentam algum estágio de degradação (CRBIO-06, 2022). Apenas pela erosão, calcula-se que o país perca anualmente aproximadamente 500 milhões de toneladas de solo fértil, o que resulta em empobrecimento dos terrenos, assoreamento de corpos hídricos, diminuição da vida útil de reservatórios e redução da capacidade produtiva das áreas agrícolas (MOURA, 2023). Em cenários sem práticas conservacionistas, essa perda poderia ultrapassar 3 bilhões de toneladas anuais (MOURA, 2023). Os principais problemas registrados no território brasileiro incluem erosão acelerada, desequilíbrio de nutrientes, diminuição da matéria orgânica, compactação, acidificação e contaminação, além da crescente expansão de áreas suscetíveis à desertificação em partes do Nordeste, do Cerrado e da Caatinga (EMBRAPA SOLOS, 2018).
Diante desse cenário alarmante, o papel do engenheiro agrícola e ambiental torna-se ainda mais essencial. Como profissional formado em uma área que integra conhecimentos da agricultura, do meio ambiente e da engenharia, ele possui competências técnicas para planejar, avaliar e implementar soluções voltadas ao uso sustentável do solo. Sua atuação engloba tanto práticas de manejo conservacionista, como terraceamento, curvas de nível, plantio direto, manejo adequado da irrigação e controle de processos erosivos, quanto atividades relacionadas ao diagnóstico da degradação, à elaboração de projetos de recuperação e ao monitoramento da qualidade físico-química e biológica dos solos (LEPSCH, 2011; EMBRAPA SOLOS, 2018). Por ser uma formação multidisciplinar, a Engenharia Agrícola e Ambiental capacita o profissional a compreender o solo de forma holística, conciliando produção, conservação e sustentabilidade.
Assim, o Dia Mundial do Solo não é apenas uma data simbólica, mas também um convite à reflexão sobre a responsabilidade coletiva em preservar esse recurso finito. A atuação técnica e ética do engenheiro agrícola e ambiental é indispensável para garantir que o solo continue cumprindo sua função ecológica, produtiva e social, assegurando qualidade de vida e sustentabilidade para as gerações atuais e futuras
REFERÊNCIAS
BOTELHO, S. A.; DAVIDE, A. C. Técnicas de restauração de áreas degradadas. Lavras: UFLA, 2002.
BRADY, N. C.; WEIL, R. R. Elementos da natureza e propriedades dos solos. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
CRBIO-06 – Conselho Regional de Biologia da 6ª Região. Uso agrícola dos solos brasileiros. 2022. Disponível em: https://www.crbio06.gov.br/docs/usoagricolasolosbrasileiros.pdf. Acesso em: 4 dez. 2024.
EMBRAPA SOLOS. Manual de métodos e técnicas de conservação do solo e da água. Rio de Janeiro: Embrapa, 2018.
FAO – FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. Status of the World’s Soil Resources (SWSR). Rome: FAO, 2015.
FAPESP. Mapeamento revela que 38% dos solos da América Latina e Caribe estão degradados. 2023. Disponível em: https://namidia.fapesp.br/mapeamento-revela-que-38-dos-solos-da-america-latina-e-caribe-estao-degradados/596036. Acesso em: 4 dez. 2024.
JORNAL USP. América Latina e Caribe possuem altas taxas de degradação do solo. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/america-latina-e-caribe-possuem-altas-taxas-de-degradacao-do-solo/. Acesso em: 4 dez. 2024.
LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
MOURA, A. M. M. de. Estimativas de perdas de solo no Brasil. 2023. Tese (Doutorado) – Universidade de Brasília, Brasília. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/49701/1/AdrianaMariaMagalhaesDeMoura_TESE.pdf. Acesso em: 4 dez. 2024.
ONU; FAO. Relatório global de degradação do solo. 2023. Disponível em: https://www.fao.org. Acesso em: 4 dez. 2024.
















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