Dia Nacional do Engenheiro Agrícola
- peteaa
- 27 de out.
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Texto autoral - Petiana Alicia Alves Luna
Hoje, celebramos o Dia do Engenheiro Agrícola, uma profissão que é, em sua essência, um pilar estratégico para o desenvolvimento do Brasil. Longe de ser apenas uma engrenagem no campo, este profissional é o arquiteto da infraestrutura que alimenta o país e o mundo. É uma data para reconhecer o valor de quem projeta, calcula e executa as soluções que tornam o agronegócio mais resiliente, produtivo e sustentável.
A relevância da profissão se reflete diretamente na sua alta empregabilidade. Com um agronegócio que representa uma parcela tão significativa do PIB nacional, a demanda por engenheiros agrícolas é constante e abrange toda a cadeia. As atribuições desse profissional, regulamentadas pelo sistema CONFEA/CREA, são vastas e demonstram sua versatilidade, incluindo desde o planejamento e projeto de construções rurais (como silos, armazéns e estruturas de bem-estar animal), sistemas de irrigação e drenagem, e eletrificação rural, até a engenharia de processamento, secagem e armazenamento de produtos agrícolas.
Neste Dia do Engenheiro Agrícola, é um bom momento para refletir sobre como essa profissão evoluiu. Se antes o foco estava quase que exclusivamente na mecanização e na infraestrutura rural, hoje o cenário é outro. Ao pesquisar sobre a área, fica claro que a nova fronteira é a informação. O desafio do engenheiro agrícola moderno não é apenas aplicar força e estrutura ao campo, mas sim aplicar inteligência, dados e eficiência em um nível que era impensável há poucas décadas.
O conceito que mais aparece nos estudos atuais é o da "Engenharia Agrícola 4.0". Na prática, isso significa a fusão da engenharia tradicional com a tecnologia da informação. Estamos falando da aplicação direta da Internet das Coisas (IoT) no campo. Por exemplo, os sistemas de irrigação de precisão, que são uma área-chave da engenharia agrícola, não dependem mais só do tempo. Agora, eles utilizam sensores no solo e em drones para analisar a umidade e as necessidades da planta em tempo real, aplicando água e nutrientes (a chamada fertirrigação) de forma localizada. Pesquisas de centros de referência, como a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a ESALQ/USP, indicam que essa gestão inteligente da irrigação pode reduzir o consumo de água em até 30% em comparação aos métodos convencionais.
Essa otimização de processos é o ponto central. Os projetos de mecanização, por exemplo, agora incluem telemetria e GPS de alta precisão. Isso permite que colhedoras e tratores operem com rotas otimizadas para economizar combustível e evitar a compactação excessiva do solo. E essa inteligência vai além da colheita; ela é crucial na pós-colheita para evitar perdas. Nesse ponto, a UFV, que é historicamente uma das pioneiras na pós-colheita no Brasil, tem focado intensamente na engenharia de secagem e armazenamento, desenvolvendo modelos de simulação e sistemas com sensores que monitoram a aeração e a umidade dos grãos em tempo real, reduzindo drasticamente as perdas qualitativas e quantitativas nos silos.
Segundo especialistas, o maior ganho dessa digitalização não é apenas econômico, mas ambiental. Ao projetar sistemas que usam a quantidade exata de fertilizante, como apontam relatórios da Embrapa, o engenheiro agrícola atua diretamente para impedir a contaminação de lençóis freáticos, um dos grandes passivos da agricultura intensiva. Portanto, a tecnologia não diminuiu a importância desse profissional; pelo contrário, aumentou sua responsabilidade. Os dados coletados pelos sensores e máquinas precisam de uma análise crítica, e é o engenheiro agrícola quem traduz esse volume de informação em decisões estratégicas. Seja no desenvolvimento de estruturas de armazenamento mais eficientes ou no projeto de sistemas de energia renovável para fazendas, é ele quem garante que a tecnologia sirva ao seu propósito final: uma produção de alimentos mais eficiente, rentável e, acima de tudo, sustentável.

Referências:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA AGRÍCOLA (SBEA). Anais do CONBEA: Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 2025. [S. l.]: SBEA, 2025.
BERNARDI, A. C. C. et al. Manejo de solo e água na agricultura de precisão. Brasília, DF: Embrapa, 2023. (Coleção Agricultura de Precisão).
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Agricultura de precisão: o que é e como funciona. [S. l.], [2025]. Disponível em: https://www.embrapa.br/.Acesso em: 24 out. 2025.
ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ (ESALQ/USP). Irrigação de precisão: tecnologias e gestão da água. [S. l.], [2025]. Disponível em: https://www.esalq.usp.br/. Acesso em: 24 out. 2025.
FARIA, M. A. et al. Tecnologia do irrigâmetro aplicada no manejo da irrigação do feijoeiro. Viçosa, MG: Locus UFV, 2000. Disponível em: https://www.locus.ufv.br/. Acesso em: 24 out. 2025.
SILVA, M. A.; GOMES, F. P. Adoção de tecnologias 4.0 na Engenharia Agrícola: um estudo de caso no Matopiba. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola, v. 29, n. 2, p. 45–56, 2024.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV). Departamento de Engenharia Agrícola. Linhas de pesquisa: recursos hídricos e ambientais. Viçosa, MG, [2025]. Disponível em: https://dea.ufv.br/pesquisa/ e https://posdea.ufv.br/linhas-de-pesquisa-2/. Acesso em: 24 out. 2025.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola. Orientadores: secagem e armazenamento de produtos agrícolas. Viçosa, MG, [2025]. Disponível em: https://posdea.ufv.br/orientadores-2/. Acesso em: 24 out. 2025.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV). Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia. Histórico. Viçosa, MG, [2025]. Disponível em: https://posfitotecnia.ufv.br/en/program-overview/. Acesso em: 24 out. 2025.
CLIMATE FIELDVIEW. Agricultura digital. Blog Climate FieldView. Disponível em: https://blog.climatefieldview.com.br/agricultura-digital. Acesso em: 26 out. 2025.
VERDE AG. O que são a agricultura de precisão e a agricultura digital? Blog Verde AG. Disponível em: https://blog.verde.ag/pt/tecnicas-agricolas/o-que-sao-a-agricultura-de-precisao-e-a-agricultura-digital/. Acesso em: 26 out. 2025.
















O texto de Alicia Alves Luna vai além de uma homenagem: é uma síntese magistral da transição da engenharia agrícola clássica para a era da agricultura digital.
Sua força está em demonstrar que o engenheiro agrícola deixou de ser mero executor de infraestrutura para se tornar gestor de sistemas inteligentes e sustentáveis, uma ponte entre o campo e a ciência de dados.
É um texto que reposiciona o engenheiro agrícola como vetor de inovação e soberania alimentar, unindo robustez técnica e visão de futuro.