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Gilles Deleuze e a “Sociedade de Controle”

Resumo baseado no livro “filosofia experiência do pensamento” de Silvio Gallo

Por Neuller Alves


Em meados do século XX, o filósofo francês Gilles Deleuze desenvolveu uma das teorias contemporâneas mais impactantes no que tange a interação indivíduo-estado. Neste processo, diversos conceitos foram elaborados na tentativa de explicar as diferentes técnicas de controle social que vigoraram nas sociedades ocidentais ao longo do tempo. Tais teorias se mostram a cada dia mais evidentes – com a evolução tecnológica ocorrida no inicio do século XXI, as relações sociais têm aumentado a expressividade dos sintomas da “sociedade de controle”, proposta por este filósofo.


Segundo Deleuze, nos tempos modernos, as diversas instituições que, no passado, visavam “confinar”, punir e padronizar os indivíduos estão se tornando mais frágeis e vêm sofrendo transformações radicais. Como exemplo, o autor cita a escola. Para ele, esta instituição que sempre teve a característica de moldar indivíduos através do controle direto e individual, inserindo “corpos disciplinados” na sociedade, tem se tornado mais flexível na atualidade, o que é evidenciado por fatores como a ascensão do ensino à distância. Tais mudanças podem ainda ser notadas em diversas outras instituições – a cada dia houve-se mais a respeito de empregos com horários flexíveis e penas alternativas nas prisões, como a utilização de tornozeleiras eletrônicas ou a adoção dos regimes aberto e semiaberto.


Todas estas brechas têm aumentado a sensação de liberdade no cenário individual ao longo do tempo. Mas, para Deleuze, essa aparente liberdade amplia as possibilidades de controle social. Na atualidade, uma pessoa não precisa estar presa ao rígido horário de funcionamento das instituições bancarias, uma vez que pode realizar quase todas as suas operações financeiras sem sair de casa e em qualquer horário, utilizando-se apenas da internet. Em contrapartida, esta autonomia confere que inúmeras instituições tenham acesso aos dados financeiros dos indivíduos apenas com um clique no computador.


Outro exemplo citado por Deleuze se refere à construção das autoestradas. Por um lado, imensas rodovias cortando o país permitem que os indivíduos possam se locomover de forma autônoma – no Brasil, por exemplo, uma pessoa pode se deslocar de norte a sul individualmente em seu carro. Entretanto, essas mesmas rodovias permitem que haja um maior controle de deslocamentos, uma vez que “polarizam” os sentidos de trafego. No passado, uma pessoa haveria de escolher entre as múltiplas rotas para se deslocar entre os mesmos dois pontos. Na atualidade, as autoestradas permitem que sejam montadas operações estratégicas de controle nas rotas com maiores fluxos veiculares.

O desenvolvimento das tecnologias eletrônicas ocorrido nos últimos anos, tem evidenciado cada vez mais a teoria da sociedade de controle. Na atualidade, não apenas as ligações telefônicas podem ser interceptadas, mas existem aplicativos para celular que obtêm a localização exata dos indivíduos via satélite. Sites de redes sociais induzem constantemente as pessoas a compartilharem informações relacionadas a seus hábitos e emoções, sendo que muitas dessas mídias pedem permissões para armazenar e divulgar dados em seus “termos de utilização”, que em grande parte das vezes, sequer são lidos pelos usuários.

FONTE: cartilha.cert.br

Para Deleuze, uma vez que as pessoas têm conhecimento da dinamicidade das ferramentas de controle, os hábitos são radicalmente transformados. Por fim, com a expansão e democratização das inúmeras ferramentas tecnológicas, os próprios indivíduos passam a exercer controle uns sobre os outros. A música da banda Maneva discorre sobre o assunto:



“ Sorria, você está sendo filmado

Sorria, sorria, sorria você está sendo filmado

Não faça nada errado

Celulares me tornaram uma espécie de soldado

Que espera sempre o caos pra usar como cenário

[...]

Minha lente sempre alcança

A marca do biquíni, a calça agarrada

Depois botar na rede e mostrar pra rapaziada

As brigas, as brigas, as brigas elas eu nunca aparto

Adoro vias de fato, espero pelo sangue

Minhas lentes querem a chance

De botar lá no Datena um vídeo que seja chocante

Não não uso olhos para ver

A minha consciência perdi na adolescência

Bombardeado por novelas que mataram minha inocência

A violência foi vendida, a nudez oferecida

Agora é minha vez de fazer filme com a minha vida

Filme de supermercado mostra uma execução

Dez tiros no sujeito sem tempo de reação

A câmera no prédio flagrou aquela menina

Recebendo de um rapaz que pede a alma feminina

[...]

MANEVA. Sorria, você está sendo filmado. In: Teu chão. 2012. Disponível em:

<www.maneva.com.br/cds/cd-teu-chao>. Acesso em: 4 agos. 2018.

Em síntese, segundo Deleuze, a “sociedade de controle” funciona como um tipo de totalitarismo, isolando e fornecendo ferramentas para controle dos indivíduos. Entretanto, aos olhos do autor, o desenvolvimento dessas ferramentas abre brechas para ascensão de armas contra a o próprio sistema, sendo que a forma como os indivíduos utilizam-se de tais utensílios é de fundamental importância no que diz respeito aos resultados alcançados.



REFERÊNCIA: GALLO, S. Filosofia: experiência do pensamento. São Paulo: Scipione, 2013.



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