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Quase um ano após a tragédia da lama, como é a vida dos moradores e a situação de Bento Rodrigues?

Com 317 anos, o distrito de Bento Rodrigues, na cidade mineira de Mariana, tinha história. O vilarejo de 600 habitantes fez parte da rota da Estrada Real no século XVII e abrigava igrejas e monumentos de relevância cultural. Em 5 de novembro de 2015, com o rompimento da barragem de Fundão, em apenas onze minutos, um tsunami de 62 milhões de metros cúbicos de lama aniquilou Bento Rodrigues. A barragem de rejeitos de mineração era controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton.

Imagem de satélite da região de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) (Foto: Digital Globe/Global Geo/Reprodução)
Imagem de satélite da região de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) (Foto: Digital Globe/Global Geo/Reprodução)

Imagens de satélite da região de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) (Foto: Digital Globe/Global Geo/Reprodução)

Em questão de minutos, gritos e buzinas tomaram as ruas: a onda de lama se aproximava. Só havia tempo para correr. Documentos, dinheiro, roupas, histórias – tudo ficou para trás. Bento Rodrigues foi riscado do mapa. Nem todos tiveram tempo de fugir.

Objetos perdidos em meio a lama (Foto: G1 Minas Gerais/Reprodução)

Objetos perdidos em meio a lama (Foto: G1 Minas Gerais)

Em poucos dias, o estrago se espalhou para bem longe dali. Peixes morreram, cidades ficaram sem água e milhares de pessoas perderam seu meio de sustento à medida que os rejeitos de minério tingiam de marrom as águas do Rio Doce até chegar ao mar, no Espírito Santo.

Satélite da Nasa mostra evolução da lama no Rio Doce (Foto: Reprodução/ WorldView Nasa)

Satélite da Nasa mostra evolução da lama no Rio Doce (Foto: Reprodução/ WorldView Nasa)

Mas hoje, quase um ano depois da maior tragédia ambiental do Brasil, como está o distrito de Bento Rodrigues e seus (ex) moradores?


Na semana do desastre, os hotéis de Mariana estavam cheios de ex-moradores de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo que perderam quase tudo no desastre. As casas alugadas pela Samarco foram entregues aos poucos, com prioridade para famílias com idosos, crianças e pessoas com deficiência.


Em maio deste ano, os moradores, que foram obrigados a deixar suas casas às pressas, definiram o local onde será reconstruída a comunidade. A área escolhida é conhecida como Lavoura e pertence à empresa ArcelorMittal. O terreno que deve abrigar o novo Bento Rodrigues fica a cerca de oito quilômetros da sede de Mariana e a cerca de nove quilômetros do antigo distrito. Segundo a Samarco, a área destinada à construção é de 89 hectares. A empresa tem até março de 2019 para o término das obras, que já foram iniciadas. Enquanto isso, os moradores ainda vivem em residências oferecidas pela mineradora e esperam pela retomada de suas atividades.


Paula Geralda Alves, morada do distrito destruído pelo lamaçal, diz que “hoje tudo é diferente. Lá em Bento, a gente vivia solto, não precisava ficar com casa trancada. Aqui tudo é diferente. As crianças ficam em casa, não tem como brincar. A gente tem toda a assistência da Samarco. A gente está com a esperança de logo logo sair o novo distrito”. Foi ela quem saiu de moto, no dia da tragédia, alertando os vizinhos sobre a lama.


Sobre a situação atual do Rio Doce, os moradores de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, ainda têm medo de beber a água captada no Rio Doce, que foi atingido pela lama de rejeitos de minério. Além disso, a desconfiança também paira sobre a qualidade do pescado. Todavia, a prefeitura garantiu que a água entregue à população é segura e de acordo com a exigências do Ministério da Saúde.


As previsões de especialistas sobre a recuperação do rio vão do 8 ao 80 – ou melhor, do dia do acidente a 30 anos, fora os que afirmam que a flora e a fauna na região nunca voltarão ao normal.


O pescador Benilde Madeira diz que precisa 'abandonar minha casa, meu canto e procurar outro rio para poder trabalhar'. Sua foto com uma lágrima ao ver o estado do Rio Doce viralizou nas redes sociais (Foto: Reprodução/Instituto Últimos Refúgios)

O pescador Benilde Madeira diz que precisa 'abandonar minha casa, meu canto e procurar outro rio para poder trabalhar'. Sua foto com uma lágrima ao ver o estado do Rio Doce viralizou nas redes sociais (Foto: Reprodução/Instituto Últimos Refúgios)

A Samarco, que não tomou as medidas de segurança necessárias no passado, provocando impacto social e ambiental, agora, protela nas ações de segurança para as estruturas do local e de reparo ambiental. Algumas dessas ações já estão com resultados visíveis. O compromisso da empresa é que as condições socioambientais e socioeconômicas voltem à situação anterior ao acidente. Onde isso não for possível, por razões técnicas, serão adotadas medidas compensatórias.


Muitas ações começaram já no dia seguinte ao do acidente, outras constam do acordo assinado em março deste ano com os governos Federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo. São ações que estão agrupadas em 41 programas socioeconômicos e socioambientais. 100% dos socioeconômicos já estão em andamento.

Balanço de algumas ações:


  • Cerca de 6.000 cartões de auxílio financeiro emergencial já foram entregues, às comunidades impactadas de Mariana, Barra Longa e Rio Doce, além dos pescadores e outros ribeirinhos em Minas Gerais e no Espírito Santo;

  • 100% dos 800 hectares a serem revegetados nos rios Doce, Carmo e Gualaxo já foram concluídos;

  • Em Mariana e Barra Longa, todas as escolas impactadas foram reformadas e 100% dos estudantes seguem o calendário regular de 2016;

  • 58 casas já foram reformadas em Barra Longa, e outras 28 estão em reforma;

  • 200 propriedades rurais foram atendidas e estão recebendo silagem e plantios com viés de compensação de alimentação, além de apoio técnico veterinário e equipamentos;

  • Foi concluída a construção de três diques para a contenção de sedimentos, de forma que eles não sejam carreados pela chuva e pelos córregos presentes no vale de Fundão;

  • Mais de 39 mil laudos emitidos pelos laboratórios responsáveis pelo monitoramento da qualidade da água e dos sedimentos, com base em mais de 550 mil análises. Resultados atuais indicam que a qualidade da água do Rio Doce encontra-se similar aos padrões observados em 2010;

  • Foi restabelecido o abastecimento de água em todas as cidades impactadas pela passagem da pluma de turbidez;

  • Foi concluída a construção de sistema alternativo de captação de água no córrego Santaninha, no município de Resplendor (MG);

  • Foi concluída a construção de adutora em Recanto dos Sonhos (Governador Valadares/MG), sistema de captação alternativo de água bruta no Rio Suaçuí Grande, que deverá ser utilizada apenas em caso de emergência, conforme procedimento formalizado junto ao SAAE local, dentre outras ações.


Apesar das ações compensatórias estarem em curso, o sonho de Paula Alves, que saiu de moto, no dia da tragédia, alertando os vizinhos sobre a lama, não vai trazer aquela Bento de outrora. E, talvez, uma nova ainda demore.


Igor Lopes de Faria Graduando em Engenharia Agrícola e Ambiental Universidade Federal de Viçosa Bolsista do PET.EAA

Referências:


Assesoria de Impresa da Samarco S.A. Reconstrução de Bento Rodrigues avança com definição de terreno para novo distrito; ações de recuperação também apresentam resultados. Website da Samarco S.A., maio de 2016. Disponível em: http://www.samarco.com/wp-content/uploads/2016/05/Reconstrucao-de-Bento-Rodrigues-avanca-com-definicao-de-terreno-para-novo-distrito-acoes-de-recuperacao-tambem-apresentam-resultados-1.pdf. Acesso em 23 out. 2016.


FREITAS, Raquel. Terreno onde será construído novo Bento Rodrigues é definido. Portal G1 Minas Gerais, maio de 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2016/05/terreno-onde-sera-construido-novo-bento-rodrigues-e-definido.html. Acesso em 22 out. 2016.


GONÇALVES, Eduardo; FUSCO, Nicole; VESPA, Talyta. Tragédia em Mariana: para que não se repita. Reportagem especial. Revista Veja, Editora Abril, março de 2016. Disponível em: http://veja.abril.com.br/complemento/brasil/para-que-nao-se-repita/. Acesso em 22 out. 2016.


JÚNIOR, Isaias. Veja o “antes e depois” do tsunami de lama atingir Minas. Projetos de Climatologia Geográfica (blog), novembro de 2016. Disponível em: http://climatologiageografica.com.br/veja-o-antes-e-depois-do-tsunami-de-lama-atingir-minas/. Acesso em 22 out. 2016.

MACHADO, Vivane. Lama no Rio Doce: linha do tempo mostra o desastre no Espírito Santo. Portal G1 Espírito Santo, maio de 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-santo/desastre-ambiental-no-rio-doce/noticia/2016/05/lama-no-rio-doce-linha-do-tempo-mostra-o-desastre-no-espirito-santo.html. Acesso em 22 out. 2016.


MANTOVANI, Flávia; POLATO, Amanda, et al. A vida após a lama. Reportagem especial. Portal G1 Minas Gerais, dezembro de 2015. Disponível em: http://especiais.g1.globo.com/minas-gerais/2015/desastre-ambiental-em-mariana/a-vida-apos-a-lama/. Acesso em 23 out. 2016.


MENEGUELLI, Gisella. Como é, hoje, a vida da população afetada pela tragédia ocorrida em Bento Rodrigues? Site GreenMe, maio de 2016. Disponível em: https://www.greenme.com.br/informar-se/ambiente/3303-como-e-hoje-a-vida-da-populacao-afetada-pela-tragedia-em-mariana. Acesso em 23 out. 2016.


TV Gazeta. Lama no Rio Doce: qualidade da água ainda é questionada. Portal G1 Espírito Santo, julho de 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-santo/desastre-ambiental-no-rio-doce/noticia/2016/07/lama-no-rio-doce-apos-8-meses-qualidade-da-agua-e-questionada.html. Acesso em 23 out. 2016.


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