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Mil e uma faces da Cannabis


Com certeza você já ouviu falar da Cannabis ou já sentiu o cheiro estranho entrando pelas narinas, porém conhece sua história? Qual sua posição diante da proposta que está sendo discutida em Brasília para o início da regulamentação dessa planta no Brasil?


Apesar da chegado a solo brasileiro junto de Cabral, sua história é muito mais remota. A Cannabis é a uma planta da família das Canabiáces, originária do Centro Sul da Ásia, sendo natural de climas tropicais e temperados e seus primeiros usos datam de 8000 anos a. C na China. Dentre das principais espécies das Canabiáceas podemos examinar características marcantes como: a rusticidade em relação as características nutricionais e hídricas do solo, se desenvolvendo bem em lugares com deficiência hídrica; alta taxa fotossintética; a duração do ciclo curta; alta resistência a pragas e invasoras, além da alta produção de fibras e folhas, que depositadas no solo regulam a matéria orgânica e microbiota do solo. Assim suas propriedades merecem uma análise pragmática para os seus possíveis usos em um futuro próximo.


A partir da planta pode-se criar cerca de 50 mil produtos de uso essencial para a sociedade moderna (Figura 1). O cânhamo (Cannabis ruderalis) é a principal variedade, que possui baixas concentrações do composto THC, uma com grande gama de possíveis usos. Na indústria de celulose, 1 hectare de cânhamo produz o mesmo que 4 hectares de eucalipto. No uso das fibra, até 1883 dentre 70 a 90% de toda corda, barbante, cabos, velas de navio, lonas, tecidos e roupas também eram feitos da fibra da maconha.


FIgura 1: Possíveis usos do Cânhamo (Modern Day Uses for Hem http://www.yongesterdam.com/acessado em 14/06/2016)


Na produção de têxteis não encontra concorrentes a altura, mostrando-se muito a frente de culturas antiquadas como o algodão, produzindo até 300% (isso mesmo, você não leu errado) mais quilos de fibras por hectare, consumindo 80% menos de água que os branquinhos, sem falar nos gastos dispendiosos de fitossanitários pela cultura algodoeira que somam ¼ do consumo mundial. A fibra do cânhamo 4 vezes mais macia que a do algodão, 4 vezes mais quente, 4 vezes mais absorvente, 3 vezes mais elástica, muito mais durável, retardante de chamas. Além desses usos, podemos ainda citar a produção de madeira, a produção de biocombustíveis como o biodiesel, materiais plásticos biodegradáveis (Figura 2), cosméticos, alimentação humana e animal onde o cânhamo contém antioxidantes, ômega 3 e 6 e ácidos graxos essenciais, e suas sementes são ricas em proteínas, ferro e cálcio.


A planta ainda pode apresentar usos específicos, sendo o cânhamo importante na fitorremediação de solos contaminados por metais pesados, capaz de desempenhar capacidade quelante contra contaminantes como arsênio e cobre, assim como solventes e pesticidas. A pergunta que fica é, apesar de possuir concentrações ínfimas dos compostos psicoativos, porque uma planta com tal potencial é proibida? Saiba mais sobre o cânhamo aqui ( ative a legenda se precisar).


Figura 2: Henry Ford demonstrando com um machado a qualidade de seu carro feito e movido a cânhamo. Fonte: revistatrip.uol.com.br/trip/movido-a-erva


Figura 3 : Colheita mecanizada de cânhamo (Fonte: http://nationalhempassociation.org/farmers/)



A Cannabis sativa é a espécie mais conhecida da família, conhecida como maconha, considerada droga e proibida no Brasil, seu tráfico e uso é arduamente combatido pelas autoridades brasileiras, rendendo dispendiosos gastos aos cofres públicos, porém existem cerca de 1,5 milhões de usuários no Brasil, logo a guerra as drogas se mostra ineficiente, pois onde há demanda, haverá oferta. Muitos especialistas defendem que a única maneira de reduzir o tráfico no país seria criando regulamentações para as mesmas, retirando o poder dos traficantes. Além disso, os impostos retirados desses mercados poderiam ir para a saúde pública e programas sociais.


A planta possui componentes específicos e segundo a Scientific Science são reconhecidas mais de 400 substâncias, sendo 70 delas fitocanabinoides. Os mais estudados são o THC (Tetrahidrocanabionol) e o CBD (Canabidiol), o primeiro, responsável pelos efeitos psicoativos da planta, e ambos usados mundialmente no combate de doenças como Câncer, Alzheimer, AIDS, Parkinson, epilepsia, artrite, esclerose múltipla, dores, alergias, alcoolismo, asma, leucemia, depressão, glaucoma entre outras ( venha um exemplo aqui) . Atualmente a Agência Nacionalde Vigilância Sanitário (ANVISA) libera a prescrição, pesquisa e importação de medicamentos a base de CBD e THC, mesmo sendo o último ainda classificado como substância proibida , mas seu uso passa a ser controlado.


O que percebesse diante da discussão em relação ao uso medicinal é uma desinformação geral, que se torna ainda mais densa no que se refere ao uso recreativo da planta. A exemplo disso vemos durante o julgamento de descriminalização no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o então atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sustentou que 90% das pessoas expostas à maconha se tornam viciadas, contrariando os principais estudos científicos, que apontam que apenas 9% das pessoas que experimentam a Cannabis se tornam dependentes, ficando atrás do álcool (15%) e do tabaco (33%).


Ao analisarmos historicamente o número de crimes mortes associados ao consumo de Cannabis percebemos o tamanho de sua inexpressividade diante de drogas lícitas como o álcool e o tabaco. Diversos estudos feitos por instituições de renome como Harvard, Bristol, California, Oxford ainda apontam os benefícios da planta e seus impactos na saúde das populações.


Outro ponto é quanto a criminalização dos usuários, sendo que na América Latina apenas as Guianas e Suriname classificam o uso de drogas como crime, mostrando a atrasada situação brasileira em relação ao tema. Dados alarmantes ainda mostram que a grande maioria das prisões devido a apreensões com maconha, legitimadas como tráfico, são de pessoas sem antecedentes criminais e com uma vida social e profissional estáveis, demonstrando a dificuldade do Estado de diferenciar os usuários e reais traficantes. Atualmente o STF julga a possibilidade da descriminalização da maconha, em andamento o processo possui 3 votos a favor e nenhum contra.


Diante da imensidão de possibilidades de usos dessas plantas, cabe a cada um se perguntar:

  • Qual seria o impacto social, econômico e ambiental da inclusão dessas espécies no país?

  • Quem iria ganhar ou perder diante do uso múltiplo de seus derivados?

  • Quais foram os fatores e argumentos usados para a criminalização da droga?


Fontes:

http://www.hypeness.com.br/2015/03/9-consequencias-alarmantes-que-a-legalizacao-da-maconha-pode-trazer/

Comparativer epidomiology of dependence on tabacco, alcohol, controlled substances and inhalants - Basic findins from national comorbidity survey. James C. Anthony et al. Experimental and Clinical Psychopharmacology, vol.2 n ] 3, págs. 244-268; 1994

https://www.fas.org/sgp/crs/misc/RL32725.pdf

http://www.hypeness.com.br/2012/01/maconha-porta-de-entrada-a-saude/

http://www.dpi.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0020/232823/industrial-hemp-a-new-crop-for-nsw.pdf.pdf

http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/cientistas-criam-biodiesel-de-maconha-20101007.html

http://wladimyrmattosadvogado.jusbrasil.com.br/artigos/224063253/nem-a-estupidez-nos-convence-que-somos-idiotas-o-uso-economico-do-canhamo

http://www.stylourbano.com.br/conheca-a-historia-da-cannabis-sativa-a-planta-que-tem-mais-de-25-000-utilidades/

https://www.sei-international.org/mediamanager/documents/Publications/SEI-Report-EcologicalFootprintAndWaterAnalysisOfCottonHempAndPolyester-2005.pdf

http://www.scriptiebank.be/sites/default/files/webform/scriptie/VanEyndeHannes_KUL_Eindwerk.pdf

http://eiha.org/media/2014/10/Hemp-Fibres-for-Green-Products-----An-assessment-of-life-cycle-studies-on-hemp-fibre-applications-2011.pdf

http://www.drapn.min-agricultura.pt/drapn/conteudos/producaoagricola/ACulturadoCanhamo.pdf

https://www.researchgate.net/publication/225697290_Industrial_hemp_or_eucalyptus_paper

http://www.yongesterdam.com/


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